Rodrigo vinha andando pela calçada. Sem camisa, o sol refletia na pele suada, cintilando em alguns confetes e purpurina. Quarta-feira de cinzas, sol a pino, e ele alegre, pois tinha passado o feriadão com colegas, festando até o limite da exaustão.
Pulou carnaval, embriagou-se. Drogas não, pois recusou as incontáveis vezes que lhe ofereceram pelo menos três tipos de entorpecente, com um educado: “Deixa para a próxima!” Sim, quem sabe outra vez.
Ficou com quase uma dezena de garotas nos dias da festa, sequer lembrava-se do nome delas e trazia no bolso números de telefone e contatos de e-mail de outras tantas. Preocupou-se por um momento, pois não se lembrava de ter se prevenido nas relações sexuais que, embriagado, manteve.
Ainda divagando nessas lembranças de euforia passageira, foi arrebatado por assovios de uma turma nas janelas de um ônibus: “Ei Rodrigo!”, “Saudades, maninho!”, “Visita a gente no sábado!”
Da calçada, Rodrigo retribui o aceno e seu estômago revirou quando viu Camila descendo do coletivo; feliz, radiante, mochila de tralhas e barraca nas costas.
- Oi Rô! – disse ela com aquele sorriso apaixonante de sempre. – Como foi o feriadão?
- Foi bom – ele respondeu e começaram a caminhar juntos. A verdade é que sentia vergonha de contar qualquer detalhe para a amiga... Aliás, Camila não era apenas amiga da época de igreja. Eles foram namorados.
- O meu foi maravilhoso – disse ela e começou a contar detalhes do retiro espiritual com a galera da igreja. – Perfeito, Rô, simplesmente perfeito. Vou guardar aquilo tudo, cada momento, para o resto da minha vida.
Rodrigo sabia do que ela estava falando. Felicidade. Já tinha sentido aquilo, de forma tão intensa, no passado. Muitos desses momentos foram compartilhados com Camila, sua namorada na época. Mas ele quis “conhecer mais do mundo”, “viver intensamente”. Deixou a igreja; deixou Camila.
- Nós oramos por você – disse ela de forma franca. – Você faz falta para o grupo.
“Para o grupo?”, pensou Rodrigo, “E para você?”. A resposta era um tanto óbvia. Camila já tinha superado. Ele não tinha noção de quanto a jovem sofreu com a separação. Chegou até a culpar-se pelo rompimento, pois era convicta em preservar sua castidade no namoro. Até mesmo esta convicção foi abalada e pensou em tentar segurar o namorado cedendo às suas exigências. Bem... o tempo passou. Camila se recuperou, pois se firmou na Rocha que é Cristo.
Rodrigo, por seu turno, sabia que sua alegria era passageira. Uma máscara, como a de carnaval. Sentia alegria frívola, mas não felicidade verdadeira. Incomodava-se depois das baladas. A saudade dos amigos e da igreja era uma constante. O vazio que antes era preenchido por Jesus agora ecoava com os choros da alma.
- Ainda dá tempo para eu voltar? – ele parou e perguntou. Camila deu mais dois passos, também parou e virou-se. O sol do meio dia prateando seus cabelos claros.
- Para Jesus? Sempre. Ele te espera e de braços bem abertos.
- Eu quero voltar – disse com sinceridade e, depois de uma pausa, fez nova pergunta: - E para você, ainda há tempo?
- Rô, você quis conhecer mais do mundo e perdeu o universo que eu tinha reservado para nosso amor. Tudo seria no tempo certo, no tempo de Deus.
Camila virou-se e, enquanto caminhava, gritou:
- Te vejo na igreja, meu irmão.
Denis Cruz
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Esteja lá conosco. Vamos falar sobre convites para as baladas.
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