terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Arte de Esperar

 esperando O salmista afirmou: “Esperei confiantemente pelo Senhor; Ele Se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro” (Sl 40:1)

Uma das principais características do povo de Deus é a espera pela vinda de Jesus. Sendo assim, talvez seja prudente conhecermos alguns princípios que nos ajudam a compreender a importância da arte de esperar. Isso se faz necessário porque a espera parece amplificar o tempo, tornando-o mais lento do que é de fato. Quando estamos com fome, trinta segundos em frente ao micro-ondas podem parecer bem mais do que isso e, quando estamos atrasados, esse mesmo tempo de espera diante de um semáforo fechado dura uma eternidade!

A primeira verdade que precisamos compreender sobre a arte de esperar é que o tempo de espera não é um período em que nada acontece. O salmista nos lembra que, enquanto esperamos, Deus Se inclina para ouvir nosso clamor, como um pai amoroso se inclina sobre o berço do filho, para lhe acalmar o choro. Por isso, esperar é um tempo solene e necessário, durante o qual a criatura dá oportunidade à ação do Criador.

De fato, convivemos com o exercício da espera desde que nascemos. Aliás, esperar é o prenúncio do próprio nascimento. Mas é também um dom que se aperfeiçoa em nós ao longo do tempo. Você já percebeu como os adolescentes parecem nunca ter tempo para nada? Em geral, são ansiosos e afoitos, como se não lhes restasse muito tempo de vida, ao passo que os idosos carregam em suas atitudes a serenidade e paciência de quem reconhece que tem a eternidade pela frente; isso porque esperar é também um exercício de confiança. Quando marcamos encontro com alguém que não conhecemos, um eventual atraso dessa pessoa nos cerca de dúvidas e insegurança. Mas se o encontro é com um amigo em quem confiamos, repousamos sobre a certeza de que, ainda que pareça demorar, ele virá.

Atitude durante a espera – Talvez a questão seja: O que podemos fazer enquanto esperamos? Sonhar? Fazer planos? Talvez devamos seguir o exemplo da moça que imagina como será a festa do seu casamento e escolhe a cor das flores que ornamentarão a igreja. Planeja quantos filhos terá e já sabe até o nome que dará a cada um deles. Tudo isso acontece enquanto espera pelo namorado que Deus ainda está preparando para ela. O ato de esperar também está relacionado às nossas expectativas, não só quanto às pessoas que esperamos mas quanto ao que esperamos delas e ao que julgamos que elas esperam de nós. Quando algum amigo não atende às minhas expectativas, costumo brincar dizendo que a culpa não é dele, porém minha, pois espero demais das pessoas. E há um fundo de verdade nisso, porque esperar tem tudo a ver com nossas expectativas.

O conceito que temos sobre nós mesmos determina em grande parte o modo com que lidamos com o tempo da espera. Quem acha que nasceu pronto interpreta o ato de esperar como um período de desgaste e de envelhecimento natural. Para ele, viver é simplesmente esperar a morte chegar, mas quem deseja crescer ao longo da vida compreende a espera como uma etapa necessária ao processo de desenvolvimento pessoal.

Mais do que isso, a espera é um ritual que valoriza o acontecimento, pois os preparativos e as alegrias que antecedem o dia da festa podem ser tão bons quanto a própria festa. Afinal, esperar é também desejar. A intensidade do nosso desejo estabelece a importância do objeto de nossa espera, uma vez que esperar é reconhecer as necessidades que temos. Aqueles que julgam não precisar de mais nada, também não têm muito que esperar, enquanto os que admitem suas carências esperam com todas as forças do coração.

A natureza nos ensina muitas lições sobre a arte de esperar, motrando-nos que a espera produz frutos melhores. Se colhermos um abacate ainda verde, o envolvermos em folhas de jornal e o guardarmos numa gaveta, ele amadurecerá, mas se o deixarmos no abacateiro, sob a luz da lua e o olhar das estrelas, ele certamente se tornará bem mais saboroso. O período de espera corresponde ao tempo de maturação necessária. Se ainda não fomos abençoados com aquilo que temos esperado por muito tempo, isso não significa que a bênção não esteja pronta para nós. O mais provável é que ainda não estejamos preparados para ela.

É como a ilustração da lagarta que tenta se desvencilhar do casulo enquanto é observada por um menino ansioso. Querendo ajudá-la a se libertar mais depressa, o garoto corta o casulo, mas a lagarta não consegue voar, porque suas asas ainda não estão totalmente formadas. Por causa de sua ansiedade, o menino não testemunhará o surgimento da borboleta, e ela, por sua vez, nunca experimentará o privilégio de voar. Esperar é não se precipitar. É investir no futuro, e o mercado financeiro nos mostra que, quanto mais longo for o prazo do investimento, tanto maior será o retorno que ele nos oferecerá. Aqueles que esperam resultados rápidos, plantam alface. Os que preferem resultados mais duradouros, plantam árvores, mas os que almejam resultados eternos, lançam sementes para a eternidade.

Prontidão – Enquanto esperamos, precisamos estar atentos. Há algumas coisas na vida que não têm hora marcada para acontecer, e outras simplesmente não sabemos quando ocorrerão. É como o indivíduo que está esperando o ônibus no ponto e não sabe quando ele passará. Depois de longo tempo de espera, ele resolve tirar um cochilo justamente no momento em que o ônibus está quase chegando. O sucesso ou fracasso de alguém não é determinado pelo tempo que ele gasta esperando, mas por seu nível de preparo quando a espera terminar. É por isso que esperar é perseverar.

O evangelista João nos diz que Jesus “veio para o que era Seu, e os seus não O receberam” (Jo 1:11). Durante séculos esperaram o Messias e, quando Ele veio, não estavam preparados para recebê-Lo. Alguns se cansaram de esperar e outros não O esperaram do modo correto. Alguns esperavam outro tipo de Messias e muitos gostaram tanto da ideia de esperar que continuam esperando Sua primeira vinda até hoje…

O tempo de espera pode ser longo, mas não precisa ser de sofrimento. Esperar é descansar e ser feliz, é saber que, na plenitude do tempo, a espera findará. Porém, não podemos nos acomodar enquanto esperamos. A espera é um tempo de ação, de motivação e não de estagnação. Quem disse que precisamos ficar parados enquanto esperamos? Esperar é buscar, ir ao encontro e ansiar pela chegada. É também se preparar para o momento. Se alguém diz que virá me visitar na próxima semana, desde já começo a me preparar… Preparar a casa, a mesa e o coração. Quanto mais importante a pessoa aguardada for para mim, mais prazeroso será para mim o tempo de espera.

Esperar é ter paciência. Não é à toa que as pessoas que, durante horas,
aguardam atendimento nos corredores dos hospitais, ou que esperam longos anos nas filas de transplantes são chamadas de “pacientes”. Mas esperar é também estar de prontidão, como os hebreus que, por orientação divina, aguardaram a libertação com os “lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão” (Êx 12:11). É saber que a oportunidade é um cavalo que só passa encilhado uma vez. Ele poderá até passar novamente, mas então precisará ser montado no pelo, o que é bem mais difícil e arriscado.

Se por um lado o abacate deve amadurecer no abacateiro, da mesma forma precisamos estar atentos ao tempo de maturação, para que ele não apodreça na árvore nem seja devorado pelas aves ou venha a cair de maduro.

Esperar é não se desesperar. Certamente, essa é a diferença mais gritante entre o funeral de um crente e o de um descrente. A dor, a perda, a saudade e a separação são as mesmas, porém a atitude é diferente, porque, ao redor de um caixão, estão reunidas pessoas que esperam pela vida, pela salvação, esperam ansiosamente a manhã da ressurreição, esperam confiantemente no Senhor, enquanto, ao redor do outro, se encontram pessoas angustiadas e desesperadas. Tudo isso porque esperar é a arte de ter esperança. Entre todas as definições de espera, essa é a que mais me fascina.

Só há uma experiência mais difícil do que esperar: é a aflição de ser esperado. Quando estamos sendo aguardados, o sinal vermelho fica mais demorado e o “micro-ondas” parece ainda mais lento. Só o ponteiro do relógio caminha mais depressa quando somos esperados. Você já pensou em como Jesus Se sente ao saber que está sendo ansiosamente aguardado? Já imaginou Sua aflição ao ouvir o clamor de Seus filhinhos? Já pensou que, enquanto O esperamos, podemos compartilhar nossa esperança com outros tantos que não têm em quem esperar?

Somos convidados a ser amigos de esperança. Por isso, precisamos viver de tal modo que as pessoas que nos encontram reconheçam em nós um povo que, de fato, conhece a arte de esperar. Que elas, por nossa influência, estejam do nosso lado, de cabeça erguida, olhando para o céu e exclamando: “Este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e Ele nos salvará” (Is 25:9).

Ctrl C by Sétimo Dia por José Ricardo de Abreu.

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