domingo, 26 de dezembro de 2010

Primavera - um conto de Denis Cruz


Ildo abriu o hinário e cantou com a comunidade de sua igreja. Hoje era um dia especial e, emocionado, foi impossível não se lembrar das dúvidas do passado, quando Cleiton, seu filho, tinha completado nove anos:

- Ele é muito jovem para uma decisão tão séria – disse o pai naquele dia já distante.

- Cleiton é um garoto inteligente, querido – argumentou Lúcia, a esposa.

Ildo sentou-se na poltrona da sala de casa e olhou para o menino que estava no outro sofá. Cleiton tinha um semblante de esperança e ansiedade, aguardando a resposta do pai.

- Isto envolve mais que inteligência, Lú – disse Ildo, evitando olhar para o filho. Talvez quando ele for mais velho, então terá mais maturidade para decidir.

Lúcia acomodou-se ao lado do filho que anunciava a decepção nos olhos que nadavam em lágrimas. Ela o afagou e disse:

- Nós fizemos nossa parte, Ildo. Ensinamos o Cleiton o caminho que ele deve andar. O levamos à igreja, o nutrimos com boa literatura, o ajudamos nas lições bíblicas, realizamos os cultos familiares. Nosso garoto aceitou tudo o que demos e está muito feliz com isto. Ele tem maturidade para aceitar Jesus e quer demonstrar isto pelo batismo. Não é justo darmos toda informação sobre Cristianismo e amor em Deus e depois adiarmos a decisão dele.

- Eu sei, mas ainda acho que é muito cedo – disse Ildo e então olhou diretamente para o filho para encerrar o assunto: - Vamos esperar mais um pouco, está bem, Cleiton?

O menino não conteve as lágrimas. Ildo tentou engolir, mas sua garganta estava seca demais.

O garoto respirou e enxugou o rosto com as costas da mão.

– Eu respeito sua decisão, papai, pois vocês me ensinaram a honrar os pais, do jeito que o mandamento fala – disse Cleiton com a voz ainda embargada. – Mas eu queria muito ser batizado agora, na primavera, e não é por causa dos meus outros amigos que também vão se batizar. Claro que eu queria entrar com o Júnior e o Beto no tanque...

- Eles combinaram de entrar abraçados – explicou Lúcia.

- Sim – concordou o menino. – Mas não é isso, pai. Eu aceitei o Jesus que vocês me ensinaram a amar e eu decidi que quero andar junto com Ele. Eu quero isso hoje. Será que vou querer a mesma coisa quando for adolescente? Eu sei que tem um monte de coisa aí fora e que os adolescentes se interessam mais por elas do que pelas coisas de Deus.

- Esse é meu medo, filho. Que depois você abandone a Igreja.

- E não seria pior se eu simplesmente nunca quisesse ter entrado nela? Eu vou continuar precisando da ajuda de vocês e acredito que ser batizado vai ser um reforço para que eu jamais abandone Jesus. Sei que você confia muito em Deus, papai. Por favor, confie em mim também!

Ildo não conteve a emoção naquele dia e também não continha agora, olhando para o batistério, onde um juvenil entrava nas águas e era recepcionado por um jovem pastor que o recepcionou e disse:

- Eu tinha nove anos quando fui batizado e acredito que eu tinha este mesmo brilho de felicidade nos olhos. Muitas vezes a tentação me rodeou e muitas vezes a lembrança do dia do meu batismo me livrou das garras do inimigo. Para sempre, Carlinhos, lembre-se da fé e do amor que você tem em Deus neste momento e da confiança que seus pais depositaram em você e permitiram que fosse batizado.

Ao dizer isto, o Pastor Cleiton batizou sua primeira alma que, por coincidência, tinha a mesma idade que a sua quando desceu às águas.

Ildo e Lúcia? Agora choravam no banco da igreja, emocionados ao assistirem o primeiro batismo realizado pelo filho.


Nenhum comentário:

Postar um comentário